segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Steve Jobs e o declínio americano

Rubens Ricúpero

ex-ministro

Pode impressionar como sinal de mau agouro o desaparecimento de Steve Jobs justamente no momento em que mais se discute o suposto ou real declínio dos EUA. Se examinarmos, um por um, os fatores responsáveis pelo longo predomínio dos americanos, a capacidade de invenção e inovação -da qual Jobs foi a encarnação viva- aparece não só como o mais indiscutível, mas também o mais difícil de emular e superar.

Li uma vez o artigo de um economista chinês que relativizava o êxito da China como "fábrica do mundo" e imbatível exportadora de manufaturas. O artigo lembrava que nenhum dos três produtos que haviam revolucionado o mercado nos anos recentes -o iPhone, o iPod e o iPad- tinha sido inventado pelos chineses, embora a fabricação se fizesse na China devido ao custo.

Essas três novidades se devem à inventividade de Jobs, mas é óbvio que sua morte não esgota a capacidade de inventar e renovar que os EUA não cansam de demonstrar há mais de século e meio. O que me chama a atenção nos americanos não é tanto o talento para as invenções mecânicas, a aplicação de avanços da ciência a máquinas e aparelhos que simplificam a vida cotidiana. Desse tipo de inventor, o símbolo maior foi, sem dúvida, Edison.

Há, porém, outro tipo de invenções, as intangíveis, como foram, no passado medieval ou no começo da modernidade, a criação pelos italianos da letra de câmbio, do contrato de seguro marítimo, da contabilidade de partida dupla, dos bancos e mais tarde, pelos holandeses, da sociedade por ações.

Nessa área, os americanos inovaram em quase tudo, a começar pelo comércio, que quase não havia mudado desde os tempos de fenícios e gregos. Começaram com as vendas por catálogo e reembolso postal, passaram para o supermercado, em seguida para o shopping center, o drive-in, as franquias, o fast food, só para ficar nesses exemplos.

Muito mais transformadoras e imateriais foram as invenções do cartão de crédito e do comércio e do caixa eletrônicos. O que essas invenções trouxeram foi não só a modificação por meios mecânicos de atividades tradicionais como lavar e cozinhar. Aliadas às inovações no domínio da recreação e do relacionamento -a TV, as redes sociais na internet-, elas na verdade recriaram a própria vida, a maneira como as pessoas empregam a maior parte do tempo e se relacionam.

Inovadores não convencionais, sem diploma, de gostos alternativos como Jobs são o produto de uma sociedade inquieta que continuamente se questiona e reinventa a si mesma. Sociedades hierarquizadas e autoritárias como a chinesa não possuem esse dom para inovar.

Enquanto predominava a destruição criadora ("creative destruction"), isto é, a inovação que destruía coisas antigas para dar lugar a novas e melhores, a superioridade americana não corria perigo. Se ela agora está em jogo, é por causa da criação destruidora ("destructive creation"), a financeira, aniquiladora de riqueza e geradora de injustiça.

A ameaça à superioridade americana não vem dos chineses, mas de dentro, de um modelo que dá mais poder e influência a lobistas corruptos e banqueiros destrutivos que a criadores como Jobs.


[publicado originalmente na folha de s paulo nesta segunda]
A vida não tem tempo


Olhos cheios de água
Lembranças de um tempo
Que não volta mais
Será? Será? Será?

Nas ruas todos cuidam de si
Ninguém enxerga as tristezas
Que existem nos corações
Machucados e doloridos

A vida não tem tempo
Para lamúria
Para lamúria
Para lamúria

A vida não tem tempo...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

 
Isabele


Durante férias na Disney, Orlando (EUA).


Isabele, minha filha, é a guapa morena do meio.


Linda, né?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Luiz Mendes

Quem mora no Acre e ouviu rádio nas décadas passadas conhece e lembra.

O gaúcho nos brindou com seus comentários sobre futebol na Rádio Nacional, do Rio, nas décadas de 70 e 80.

Atualmente ele trabalhava na Globo, mas já não ia aos estádios...falava de casa, pelo telefone. Estava doente.

Nesta quinta, Mendes ('Minha gente...', costumava dizer ao começar os comentários) era o da 'palavra fácil', simples e compreensível.

O rádio brasileiro está orfão.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


16 degraus...



As coisas estavam muito ruins...


Desci a escadinha aqui de casa...


E fui ver a minha princesa Isabele tomando café com pão.


Na sua frente, na mesinha da cozinha, além da xícara, a torrada, o pão e o lap top.


Isabele e o lap top são inseparáveis.


Fiquei na borda de um baú tipico de novela de época e pus-me a admirá-la.


Nem olhou para mim.


Envolto em pensamentos mil resolvi subir para o quarto...


Foram 16 degraus que mudaram a minha noite depois que peguei o telemóvel.


A vida é bela e fantástica!


E tem nome!....

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


Jornal, qualidade e rigor


Carlos Alberto Di Franco

Televisão e internet são, frequentemente, os bodes expiatórios para justificar a crise dos jornais. Os jovens estão "plugados" horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos navegantes do espaço virtual.

Os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de jornais de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo, na infografia e na prestação de serviços - estratégias convenientes e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que devemos conquistar não quer, como é lógico, o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer informação de qualidade: a matéria aprofundada, a reportagem interessante, a análise que o ajude, de fato, a tomar decisões.

Para sobreviverem os grandes jornais precisam fazer que seja interessante o que é relevante. "O jornalismo impresso deve ser feito para um público de paladar fino e ser importante pelo que conta e pela forma como conta. A narração é cada vez mais importante." É a correta percepção do professor Alfonso Sánchez-Tabernero, vice-reitor da Universidade de Navarra, na Espanha.

Quem tem menos de 30 anos gosta de sensações, mensagens instantâneas. Para isso a internet é imbatível. Mas há quem queira entender o mundo. Para estes deve existir leitura reflexiva, a grande reportagem. Será que estamos dando respostas competentes às demandas do leitor qualificado? A pergunta deve fazer parte do nosso exame de consciência diário.

Antes, os periódicos cumpriam muitas funções. Hoje, não cumprem algumas delas. Não servem mais para nos contar o imediato, o que vimos na TV ou acabamos de acessar na internet. E as empresas jornalísticas precisam assimilar isso e se converter em marcas multiplataformas, com produtos adequados a cada uma delas. Não há outra saída!

Nas experiências que acompanho, no Master em Jornalismo e nos trabalhos de consultoria, ninguém alcançou a perfeição e ninguém se equivocou totalmente. O que se nota é que os jornais estão lentos para entender que o papel é um suporte que permite trabalhar em algo que a internet e a rede social não podem: a seleção de notícias, o jornalismo de alta qualidade narrativa e literária. É isso que o público está disposto a pagar. A fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise, interpretação e se valer de sua credibilidade.

Estamos numa época em que informação gráfica é muito valiosa. Mas um diário sem texto é um diário que vai morrer. O suporte melhor para fotos e gráficos não é o papel. Há assuntos que não é possível resumir em poucas linhas. Assistimos a um processo de superficialização dos jornais. Queremos ser light, leves, coloridos, enxutos. O risco é investir na forma, mas perder no conteúdo. Olhemos para o sucesso da revista britânica The Economist. Algo nos deveria dizer. Não é verdade que o público não goste de ler. O público não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância, não agrega, não tem qualidade. Um bom texto, para um público que compra a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.


Daí a premente necessidade de um sólido investimento em treinamento e qualificação dos profissionais. Para mim, o grande desafio do jornalismo é a formação dos jornalistas. Se você for a um médico e ele disser que não estuda há 20 anos, você sai correndo. Mas há jornalistas que não estudam há 20 anos. É preciso criar oportunidades de treinamento. O jornalismo não é rotativa. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação. Por isso são necessários jornalistas com excelente formação cultural, intelectual e humanística. Gente que leia literatura, seja criativa e motivada.

O conteúdo precisa fugir do previsível. O noticiário de política, por exemplo, tradicionalmente forte nos segmentos qualificados do leitorado, perdeu vigor. Está, frequentemente, dominado pela fofoca e pelo declaratório. Fazemos denúncias (e é importante que as façamos), mas, muitas vezes, faltam consistência, apuração sólida. O resultado é a pauta superada por um novo escândalo. Fica no leitor a sensação de que não aprofundamos, não conseguimos ir até o fim. O marketing político avançou além da conta. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era do declaratório e da inconsistência.

Políticos e partidos vendem uma bela embalagem, mas fogem da discussão das ideias e das políticas públicas. Nós, jornalistas, somos - ou deveríamos ser - o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e mostrar a realidade. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos do espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia sólida e amadurecida.

Uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos governantes. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.

Só um sério investimento em qualidade e rigor garantirá o futuro dos jornais.

[Carlos Alberto Di Franco - O Estado de S. Paulo]

domingo, 16 de outubro de 2011

Carolina

Não sei por que, mas me peguei nesse sábado, 15, quando guiava, lembrando da minha primeira filha, que viveu apenas 24 horas, em 1996.

Seu nome de batismo: Juliana Carolina.

A música do Chico aí embaixo diz tudo...


quinta-feira, 6 de outubro de 2011



Steve Jobs, da Apple

[Vale à pena ler ou assistir o seu discurso (legendado) aos formandos da Universidade de Stanfor, em 2005.]

"Estou honrado por estar aqui com vocês em sua formatura por uma das melhores universidades do mundo. Eu mesmo não concluí a faculdade. Para ser franco, jamais havia estado tão perto de uma formatura, até hoje. Pretendo lhes contar três histórias sobre a minha vida, agora. Só isso. Nada demais. Apenas três histórias.

A primeira é sobre ligar os pontos.

Eu larguei o Reed College depois de um semestre, mas continuei assistindo a algumas aulas por mais 18 meses, antes de desistir de vez. Por que eu desisti?

Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era jovem e não era casada; estava fazendo o doutorado, e decidiu que me ofereceria para adoção. Ela estava determinada a encontrar pais adotivos que tivessem educação superior, e por isso, quando nasci, as coisas estavam armadas de forma a que eu fosse adotado por um advogado e sua mulher.

Mas eles terminaram por decidir que preferiam uma menina. Assim, meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam um telefonema em plena madrugada: "temos um menino inesperado aqui; vocês o querem?" Os dois responderam "claro que sim". Minha mãe biológica descobriu mais tarde que minha mãe adotiva não tinha diploma universitário e que meu pai nem mesmo tinha diploma de segundo grau. Por isso, se recusou a assinar o documento final de adoção durante alguns meses, e só mudou de idéia quando eles prometeram que eu faria um curso superior.
Assim, 17 anos mais tarde, foi o que fiz. Mas ingenuamente escolhi uma faculdade quase tão cara quanto Stanford, e por isso todas as economias dos meus pais, que não eram ricos, foram gastas para pagar meus estudos. Passados seis meses, eu não via valor em nada do que aprendia. Não sabia o que queria fazer da minha vida e não entendia como uma faculdade poderia me ajudar quanto a isso. E lá estava eu, gastando as economias de uma vida inteira. Por isso decidi desistir, confiando em que as coisas se ajeitariam. Admito que fiquei assustado, mas em retrospecto foi uma de minhas melhores decisões.Bastou largar o curso para que eu parasse de assistir às aulas chatas e só assistisse às que me interessavam.
Nem tudo era romântico. Eu não era aluno, e portanto não tinha quarto; dormia no chão dos quartos dos colegas; vendia garrafas vazias de refrigerante para conseguir dinheiro; e caminhava 11 quilômetros a cada noite de domingo porque um templo Hare Krishna oferecia uma refeição gratuita. Eu adorava minha vida, então. E boa parte daquilo em que tropecei seguindo minha curiosidade e intuição se provou valioso mais tarde. Vou oferecer um exemplo.

Na época, o Reed College talvez tivesse o melhor curso de caligrafia do país. Todos os cartazes e etiquetas do campus eram escritos em letra belíssima. Porque eu não tinha de assistir às aulas normais, decidi aprender caligrafia. Aprendi sobre tipos com e sem serifa, sobre as variações no espaço entre diferentes combinação de letras, sobre as características que definem a qualidade de uma tipografia. Era belo, histórico e sutilmente artístico de uma maneira inacessível à ciência. Fiquei fascinado.

Mas não havia nem esperança de aplicar aquilo em minha vida. No entanto, dez anos mais tarde, quando estávamos projetando o primeiro Macintosh, me lembrei de tudo aquilo. E o projeto do Mac incluía esse aprendizado. Foi o primeiro computador com uma bela tipografia. Sem aquele curso, o Mac não teria múltiplas fontes. E, porque o Windows era só uma cópia do Mac, talvez nenhum computador viesse a oferecê-las, sem aquele curso. É claro que conectar os pontos era impossível, na minha era de faculdade. Mas em retrospecto, dez anos mais tarde, tudo ficava bem claro.

Repito: os pontos só se conectam em retrospecto. Por isso, é preciso confiar em que estarão conectados, no futuro. É preciso confiar em algo - seu instinto, o destino, o karma. Não importa. Essa abordagem jamais me decepcionou, e mudou minha vida.

A segunda história é sobre amor e perda.

Tive sorte. Descobri o que amava bem cedo na vida. Woz e eu criamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhávamos muito, e em dez anos a empresa tinha crescido de duas pessoas e uma garagem a quatro mil pessoas e US$ 2 bilhões. Havíamos lançado nossa melhor criação - o Macintosh - um ano antes, e eu mal completara 30 anos.

Foi então que terminei despedido. Como alguém pode ser despedido da empresa que criou? Bem, à medida que a empresa crescia contratamos alguém supostamente muito talentoso para dirigir a Apple comigo, e por um ano as coisas foram bem. Mas nossas visões sobre o futuro começaram a divergir, e terminamos rompendo - mas o conselho ficou com ele. Por isso, aos 30 anos, eu estava desempregado. E de modo muito público. O foco de minha vida adulta havia desaparecido, e a dor foi devastadora.

Por alguns meses, eu não sabia o que fazer. Sentia que havia desapontado a geração anterior de empresários, derrubado o bastão que havia recebido. Desculpei-me diante de pessoas como David Packard e Rob Noyce. Meu fracasso foi muito divulgado, e pensei em sair do Vale do Silício. Mas logo percebi que eu amava o que fazia. O que acontecera na Apple não mudou esse amor. Apesar da rejeição, o amor permanecia, e por isso decidi recomeçar.

Não percebi, na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. O peso do sucesso foi substituído pela leveza do recomeço. Isso me libertou para um dos mais criativos períodos de minha vida.

Nos cinco anos seguintes, criei duas empresas, a NeXT e a Pixar, e me apaixonei por uma pessoa maravilhosa, que veio a ser minha mulher. A Pixar criou o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é hoje o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. E, estranhamente, a Apple comprou a NeXT, eu voltei à empresa e a tecnologia desenvolvida na NeXT é o cerne do atual renascimento da Apple. E eu e Laurene temos uma família maravilhosa.

Estou certo de que nada disso teria acontecido sem a demissão. O sabor do remédio era amargo, mas creio que o paciente precisava dele. Quando a vida jogar pedras, não se deixem abalar. Estou certo de que meu amor pelo que fazia é que me manteve ativo. É preciso encontrar aquilo que vocês amam - e isso se aplica ao trabalho tanto quanto à vida afetiva. Seu trabalho terá parte importante em sua vida, e a única maneira de sentir satisfação completa é amar o que vocês fazem. Caso ainda não tenham encontrado, continuem procurando. Não se acomodem. Como é comum nos assuntos do coração, quando encontrarem, vocês saberão. Tudo vai melhorar, com o tempo. Continuem procurando. Não se acomodem.
Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia algo como "se você viver cada dia como se fosse o último, um dia terá razão". Isso me impressionou, e nos 33 anos transcorridos sempre me olho no espelho pela manhã e pergunto, se hoje fosse o último dia de minha vida, eu desejaria mesmo estar fazendo o que faço? E se a resposta for "não" por muitos dias consecutivos, é preciso mudar alguma coisa.

Lembrar de que em breve estarei morto é a melhor ferramenta que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo do fracasso - desaparece diante da morte, que só deixa aquilo que é importante. Lembrar de que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar armadilha de temer por aquilo que temos a perder. Não há motivo para não fazer o que dita o coração.

Cerca de um ano atrás, um exame revelou que eu tinha câncer. Uma ressonância às 7h30min mostrou claramente um tumor no meu pâncreas - e eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que era uma forma de câncer quase certamente incurável, e que minha expectativa de vida era de três a seis meses. O médico me aconselhou a ir para casa e organizar meus negócios, o que é jargão médico para "prepare-se, você vai morrer".

Significa tentar dizer aos seus filhos em alguns meses tudo que você imaginava que teria anos para lhes ensinar. Significa garantir que tudo esteja organizado para que sua família sofra o mínimo possível. Significa se despedir.

Eu passei o dia todo vivendo com aquele diagnóstico. Na mesma noite, uma biópsia permitiu a retirada de algumas células do tumor. Eu estava anestesiado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células ao microscópio começaram a chorar, porque se tratava de uma forma muito rara de câncer pancreático, tratável por cirurgia. Fiz a cirurgia, e agora estou bem.

Nunca havia chegado tão perto da morte, e espero que mais algumas décadas passem sem que a situação se repita. Tendo vivido a situação, posso lhes dizer o que direi com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito útil, mas puramente intelectual.

Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que desejam ir para o céu prefeririam não morrer para fazê-lo. Mas a morte é o destino comum a todos. Ninguém conseguiu escapar a ela. E é certo que seja assim, porque a morte talvez seja a maior invenção da vida. É o agente de mudanças da vida. Remove o velho e abre caminho para o novo. Hoje, vocês são o novo, mas com o tempo envelhecerão e serão removidos. Não quero ser dramático, mas é uma verdade.

O tempo de que vocês dispõem é limitado, e por isso não deveriam desperdiçá-lo vivendo a vida de outra pessoa. Não se deixem aprisionar por dogmas - isso significa viver sob os ditames do pensamento alheio. Não permitam que o ruído das outras vozes supere o sussurro de sua voz interior. E, acima de tudo, tenham a coragem de seguir seu coração e suas intuições, porque eles de alguma maneira já sabem o que vocês realmente desejam se tornar. Tudo mais é secundário.

Quando eu era jovem, havia uma publicação maravilhosa chamada The Whole Earth Catalog, uma das bíblias de minha geração. Foi criada por um sujeito chamado Stewart Brand, não longe daqui, em Menlo Park, e ele deu vida ao livro com um toque de poesia. Era o final dos anos 60, antes dos computadores pessoais e da editoração eletrônica, e por isso a produção era toda feita com máquinas de escrever, Polaroids e tesouras. Era como um Google em papel, 35 anos antes do Google - um projeto idealista e repleto de ferramentas e idéias magníficas.

Stewart e sua equipe publicaram diversas edições do The Whole Earth Catalog, e quando a idéia havia esgotado suas possibilidades, lançaram uma edição final. Estávamos na metade dos anos 70, e eu tinha a idade de vocês. Na quarta capa da edição final, havia uma foto de uma estrada rural em uma manhã, o tipo de estrada em que alguém gostaria de pegar carona. Abaixo da foto, estava escrito "Permaneçam famintos. Permaneçam tolos". Era a mensagem de despedida deles. Permaneçam famintos. Permaneçam tolos. Foi o que eu sempre desejei para mim mesmo. E é o que desejo a vocês em sua formatura e em seu novo começo.

Mantenham-se famintos. Mantenham-se tolos. Muito obrigado a todos. [Steve Jobs 1955-2011]

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Correr e pensar

Por Tostão - ex-jogador


[O Brasil é fábrica de velocistas, ideais para o contra-ataque. Raros têm talento para a seleção]

ANTES DA Copa de 2010, o Brasil, sob o comando de Dunga, ganhou a maioria das partidas no contra-ataque, contra fracos e fortes adversários.

Mano Menezes assumiu o cargo e disse que o time teria outro estilo. Com Neymar, Lucas e se ainda tiver Kaká, jogadores hábeis e velozes, o estilo continuará o mesmo da época de Dunga. No contra-ataque, Lucas fez um belíssimo gol contra a Argentina. Quem define a filosofia de uma equipe são as características dos principais jogadores, e não os treinadores.

Nas Séries A, B, C e D do Brasileirão, nas categorias de base e na seleção principal, predominam as jogadas aéreas, a velocidade e os contra-ataques. É o atual estilo brasileiro. O Brasil é uma fábrica de velocistas. Pouquíssimos têm talento para o nível da seleção brasileira.

Existem ótimas e fracas equipes, com todos os estilos. Muito mais importante que o estilo é a qualidade dos jogadores.

A maioria associa o contra-ataque com defensivismo. Não é sempre assim. O contra-ataque pode se iniciar no próprio campo, no centro do gramado ou no campo adversário, quando se marca por pressão.

O ideal é unir a posse de bola, a troca de passes e as triangulações com o contra-ataque, como fazem os dois melhores times do mundo, Barcelona e Real Madrid. No Barcelona, predomina a bola de pé em pé. No Real, o contra-ataque.

A seleção, na Copa-1970, tinha as duas características. No segundo gol, contra o Uruguai, Jairzinho, como Lucas, contra a Argentina, partiu do próprio campo para fazer o gol. Os dois são hábeis, velozes, finalizam bem e têm muita força física.

Como a atual seleção enfrenta, na maioria das vezes, adversários que marcam atrás e deixam poucos espaços para o contra-ataque, terá de aprender a ficar mais com a bola, até ter a chance de fazer o gol. As razões dessa deficiência são o atual estilo brasileiro e a falta de grandes armadores, pensadores, organizadores, que atuem de uma intermediária à outra.

A máxima de que futebol se ganha no meio-campo não existe no Brasil há muito tempo.

A pressa de chegar ao gol, reflexo do mundo apressado de hoje, acabou com o meio-campo. A bola vai e volta. Parece pingue-pongue. Isso tornou nosso futebol menos eficiente em relação às principais seleções.

Há momentos para agir e para pensar, para a velocidade e para a pausa, contração e relaxamento, sístole e diástole.

Difícil é, ao mesmo tempo, correr e pensar, como disse, tempos atrás, um jogador.

[publicada originalmente na FSP de hoje]

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Não se ganha jogo de véspera

Por Robinson Braga*

Por exemplo, a situação do Paysandu, mudou do vinagre pro vinho em grande parte por algumas circunstancias, como duas vitorias nos minutos finais - contra o america (o América perdeu um gol no cara crachá)  e contra o Rio  Branco (o Rio Branco não merecia vencer) mas como diria o Nelson Rodrigues, o sobrenatural de almeida reservou as vitórias nos instantes finais.

Uma das lições é que não se ganha jogo de véspera (nunca esquecer o macaranaço de 50), ou também tabu não é pra sempre. Há varias situações do futebol muito curiosas, veja o exemplo do Cruzeiro ainda não se recuperou da derrota para o Once Caldas e está correndo o risco de ser rebaixado.

O Paysandu mereceu vencer, tem o erro da arbitragem, tem o mérito do Paysandu e tem o desempenho abaixo da média do Rio Branco. Entre a vitória anterior e esta derrota tem que o Paysandu mudou de técnico que cobrou mais dos jogadores e então adotadaram outra postura.

Do Rio Branco creio que foi tanto a história do tabu como o clima de que já estava na Série B. Acho que tem o fraco desempenho dos jogadores mas não creio que seja falta de atitude ou dedicação ou outra coisa semelhante. Sinceramente acho absurdo crucificar esse ou aquele jogador (como fizeram com o Fred e agora com o Kleber). Não vi isso, mas é preciso estar perto para ter certeza.

Bom, continuamos depois.

*Robinson Braga - professor de Economia da UFAC

domingo, 2 de outubro de 2011


O Estrelão e os mitos criados...

Eu vi o jogo no Arena da Floresta.

Foi uma partida chata. Tecnicamente fraca.

Rio Branco e Paysandu (PA) fizeram um dos piores jogos que vi no melhor estádio do Brasil. A deficiência técnica e física do nosso time salta aos olhos.

É. O Arena é o único lugar onde se assiste futebol no país que o vendedor ambulante pega uma nota de
R$ 50, não tem troco no momento, e o cliente fica esperando ele trocar...

De repente, o cara reaparece e devolve o teu dinheiro. Quem já foi ao Maracanã, Morumbi, Mineirão, Beira-Rio, La Bombonera, etc...sabe do que estou falando.

O Arena (o estádio) é o mais seguro de todos no Brasil. Pode levar sua mãe, seu pai de 80 anos que eles vão ficar tranqüilos para ver o jogo. Não tem problema nenhum com torcedores marginais que os outros estados têm em profusão.

Outra coisa: resolvi ir ao jogo quinze minutos antes de começar a partida. Cheguei em cima da hora. O Arena estava quase lotado. Não passei mais de um minuto para comprar o ingresso e, para entrar, foi uma moleza.

Ao fim do jogo achei meu carro às 20h no estacionamento lotado. Estava em casa escrevendo este texto, às 20h15min. De dá inveja aos torcedores do resto do Brasil.

Comodidade desse tipo somente nos estádios da Europa, os melhores, e nos estádios do futebol americano. No Brasil, o Arena da Floresta bate em todos em segurança, conforto e acessibilidade.

Mais e os mitos do Rio Branco?

O Estrelão perdeu o jogo por 2 a 1 para o Paysandu, de Belém.

Os apressados já falaram: ‘O Estrelão foi roubado na Arena.’ Nada disso.

Tive o cuidado de falar com o pessoal da TV Aldeia sobre o gol do Paysandu, que não teria entrado. O narrador Badaró me disse:

-Não dá para ter certeza se entrou ou não entrou. Para mim, entrou, mas não dá para dizer com absoluta certeza.

Ora, se nem a TV consegue esclarecer se a bola entrou imagina o bandeirinha e o árbitro que têm que decidir naquele momento, sem replay.

Mas criaram na imprensa do Acre, já faz algum tempo, que o time acreano é profissional. Em teoria, no cartório, sim. Na prática continua amador.

É o primeiro mito. O mito do profissionalismo.

O segundo mito: fizeram crer ao longo dos anos que alguns jogadores são excepcionais. É o caso de Testinha. que acredita ser o Pelé, o Zico, o Messi, o Rivelino, o Zidane.

Hoje o Rio Branco jogou com 10 jogadores. O ‘craque’ Testinha não viu a bola. Acho que tá na hora de outro assumir o seu lugar na equipe. O Estrelão ganharia em economia e rendimento em campo.

A imprensa esportiva do Acre não tem coragem de fazer uma única crítica a esse jogador Testinha...Não sei os motivos....Esse é o mito mais forte.

E o terceiro mito: a preparação física do time acreano tem que se profissionalizar. Condicionamento físico é ciência e os times do Acre, não somente o Rio Branco, estão na idade da pedra em preparação física.

Ou seja, não há estudos sendo feitos para a preparação física dos atletas de futebol do Acre.

A UFAC poderia ajudar nisso...Poderia, mas também nem se mexe.

O fato é que ainda estou chateado com a derrota do time do Acre para o Paysandu, que tem história e deverá estar na segunda divisão no próximo ano.

Com relação ao Estrelão, tá na hora de acabar com os mitos e encarar a realidade.