segunda-feira, 10 de novembro de 2008


Pheyndews, o inventor



Conheci Pheyndews Evangelista Carvalho quando entrei no Sindicato dos Bancários, nos áureos anos 80. Mas todos o chamavam de ‘Fé-em-deus’, pois era mais fácil pronunciar, escrever, óbvio.


Fui ao seu velório no domingo, 9, e resolvi homenageá-lo contando algumas histórias desse que foi um dos primeiros jornalistas do Acre, e um ser humano de alto astral, sempre de bom humor. Ele tinha 59 anos.


No velório, conversei com o irmão Floriano, aposentado da Eletroacre, que é um amigo da nossa família há tempos.


Fé construía brinquedos de pau. Era cheio de invenções. Vivia pensando em inventar coisas. Eu mesmo comprei dele, faz tempo, um caminhão de madeira e levei para casa. Nem sei que destino dei ao brinquedo.


Não tenho fotos do Fé nem quis clicar o amigo no caixão. Acho que caixão não combinava com ele. Por isso, quem tiver uma foto dele em vida envie para mim, por favor, para ilustrar essas linhas aqui no blog.


Mande para este e-mail: joaoroberto15@globo.com


Fé vai deixar saudades:


Vai aí umas historinhas do Fé para você se divertir com um homem que viveu a alegria de estar vivo.


*** Um dia o Fé foi ao Sindicato dos Bancários me chamar para ajudar na greve da TV Acre, onde ele trabalhava como repórter e editor. Fui. Chegando lá, eu e ele entramos na sala do chefe. Era Emílio Assmar que, quando o avistou foi logo apontando para ele e dizendo:


-Você está demitido.


Depois da confusão saímos rindo de nós mesmos.


*** Há muito tempo foi chamado para uma viagem, onde acompanharia o governador, o secretário para fora do Estado. Na hora de embarcar, Fé foi solicitado a mostrar a identidade. Como não tinha não pôde entrar no avião. Ele até insistiu:


-Eu tenho a Carteira de Trabalho, não vale?


*** Trabalhou em todos os jornais da capital, mas quando escreveu em O Rio Branco fez uma matéria que denunciava que freiras, isso mesmo!, freiras - tinham ficado grávidas. Resultado: o jornal começou a perder assinaturas por pressão da Igreja na época.


Pressionado pela direção, respondeu:


-Deixa que resolvo isso.


Depois virou amigo do Bispo e tudo ficou em paz.


*** ’Fé-em-deus’ era um Professor Pardal: um dia apareceu com uma engenhoca que ele chamou de’ foguetes para fazer chover.’


Conseguiu até impressionar os técnicos da Embrapa.


*** Em governos passados, [muitos passado...], ele era o responsável para fazer o pagamento dos servidores do interior. E acabava que tinha que levar sacos e sacos de dinheiro para casa. Tinha dois guarda-costas gordões, que não davam segurança alguma.


*** Fé trabalhava no jornal ‘Folha do Acre’, na década de 80, quando a sua sede pegou fogo, ou puseram fogo nela. O jornal era do médico Mário Maia, que viria a ser senador nota 10 na Constituinte de 88.


*** No Deracre, onde foi assessor de imprensa nos últimos anos, era escalado para voar em avião sem portas para orientar o fotógrafo a captar as melhores imagens. Ele dizia quando estava lá em cima:


-É agora que eu vou!


*** 'Fé-em–deus' foi muitas vezes ao Juruá a trabalho. Ele gostava de Cruzeiro do Sul, e da cidade sempre comentava:


-Se morasse em Cruzeiro era rico: ficaria com meus Skates em cima das ladeiras e alugava. Quando o cara descesse eu já estaria lá embaixo para vender o Mertiolate e o algodão .


Ele ria contando isso.


*** Quando perguntavam onde ele vivia, ultimamente, contava que morava próximo a pessoas importantes.


-Moro perto do Niki Lauda e do Kley Regazone – se referindo a dois vizinhos que foram batizados com nomes de famosos pilotos da Fórmula 1, nos idos de 70\80.


*** No governo Iolanda, Fé começou a construir armas de madeiras em sua casa. Tinha de todo tipo: revólveres, espingardas, metralhadoras e até fuzis. A governadora soube e tomou uma providência: a secretaria de Educação convenceu o Fé a vender tudo para o Estado, pois aquilo ‘era um incentivo à violência’, e as enviou para os municípios mais distantes, longe da capital.


-Aquela foi a maior venda da minha fábrica – se orgulhava.


*** Fé-em-deus nunca ficou rico e morria de medo da morte.


-É a coisa que mais tenho medo.

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