quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Correr e pensar
Por Tostão - ex-jogador
[O Brasil é fábrica de velocistas, ideais para o contra-ataque. Raros têm talento para a seleção]
ANTES DA Copa de 2010, o Brasil, sob o comando de Dunga, ganhou a maioria das partidas no contra-ataque, contra fracos e fortes adversários.
Mano Menezes assumiu o cargo e disse que o time teria outro estilo. Com Neymar, Lucas e se ainda tiver Kaká, jogadores hábeis e velozes, o estilo continuará o mesmo da época de Dunga. No contra-ataque, Lucas fez um belíssimo gol contra a Argentina. Quem define a filosofia de uma equipe são as características dos principais jogadores, e não os treinadores.
Nas Séries A, B, C e D do Brasileirão, nas categorias de base e na seleção principal, predominam as jogadas aéreas, a velocidade e os contra-ataques. É o atual estilo brasileiro. O Brasil é uma fábrica de velocistas. Pouquíssimos têm talento para o nível da seleção brasileira.
Existem ótimas e fracas equipes, com todos os estilos. Muito mais importante que o estilo é a qualidade dos jogadores.
A maioria associa o contra-ataque com defensivismo. Não é sempre assim. O contra-ataque pode se iniciar no próprio campo, no centro do gramado ou no campo adversário, quando se marca por pressão.
O ideal é unir a posse de bola, a troca de passes e as triangulações com o contra-ataque, como fazem os dois melhores times do mundo, Barcelona e Real Madrid. No Barcelona, predomina a bola de pé em pé. No Real, o contra-ataque.
A seleção, na Copa-1970, tinha as duas características. No segundo gol, contra o Uruguai, Jairzinho, como Lucas, contra a Argentina, partiu do próprio campo para fazer o gol. Os dois são hábeis, velozes, finalizam bem e têm muita força física.
Como a atual seleção enfrenta, na maioria das vezes, adversários que marcam atrás e deixam poucos espaços para o contra-ataque, terá de aprender a ficar mais com a bola, até ter a chance de fazer o gol. As razões dessa deficiência são o atual estilo brasileiro e a falta de grandes armadores, pensadores, organizadores, que atuem de uma intermediária à outra.
A máxima de que futebol se ganha no meio-campo não existe no Brasil há muito tempo.
A pressa de chegar ao gol, reflexo do mundo apressado de hoje, acabou com o meio-campo. A bola vai e volta. Parece pingue-pongue. Isso tornou nosso futebol menos eficiente em relação às principais seleções.
Há momentos para agir e para pensar, para a velocidade e para a pausa, contração e relaxamento, sístole e diástole.
Difícil é, ao mesmo tempo, correr e pensar, como disse, tempos atrás, um jogador.
[publicada originalmente na FSP de hoje]
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